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Capítulo I : A ligação
« Às vezes, mesmo com seu coração gritando ‘NÃO FAÇA ISSO’ você arrisca. Nunca me arrependi tanto quanto hoje, o pior dia de toda a minha vida.
Eram 2 horas da manhã. Estava dormindo em meu caminhão em Paris depois de mais um dia de treinos intensos. Como a cada treino, sempre ao final rolavam umas lágrimas durante o banho afinal, ficava pensando e sonhando em uma apresentação mais do que perfeita no exato momento e fazer minha carreira explodir.
Ela se chamava Shannon. O primeiro contato que tive com a produção do show. Disse entusiasmada que « eles » tinham adorado o que eu havia apresentado na Espanha. Realmente minha performance foi um sucesso, hoje contando com mais de um milhão de visualizações no Youtube.
Super entusiasmado, não conseguia acreditar no que estava ouvindo – Ainda não sou seu contato final, entretanto existe uma grande possibilidade de você participar do show – disse ela. Precisamos de mais alguns vídeos, detalhes mas você interessa ao nosso show.
Fiquei empolgado mas logo me contive: não quero me embalar muito afinal, nada está 100% certo.
Passaram-se 2 meses. Havia deixado pra lá.
Minha vida continuava normalmente quando recebo um email. Ela se chamava Keila: « Olá! Bem vindo à 13 edição do America’s GOT Talent ».
Gritei. Chorei. Que momento lindo! « Finalmente minha vida vai mudar. O mundo inteiro conhecerá meu trabalho. As coisas vão finalmente mudar ».
O que não me empolgou muito é que, a cada email recebido, a última linha sempre dizia « apesar de receber esta mensagem, isso não significa que você estará no show ».
Falamos sobre condições. Expus que eu era um profissional e que havia feito 3 edições do GOT Talent e que na última, apresentada na Alemanha havia igualmente sido um sucesso como na Espanha e super engraçada.
« Podemos reembolsar suas despesas mas infelizmente não pagamos pela performance ». Assumo que essa frase me esfriou totalmente, afinal estava brigando sempre com todo mundo dizendo que os artistas deveriam valorizar seu trabalho e parar de trabalhar gratuitamente a troca de imagens e publicidade. Festivais de circo, teatro, dança, artistas super conhecidos, programas de televisão usam esse discurso, dizendo que a visibilidade será ótima para sua carreira e consequentemente o retorno em forma de trabalho é mais do que garantido. Isso é mentira!!!
Lutei. Briguei até o fim para receber um cachê. Quando envio o recibo do meu visa americano para ser quitado por eles, recebo a mensagem de que eles não poderiam pagar adiantado. Eu é que deveria avançar a quantia e com um recibo em mão ser reembolsado. « Desculpe mas essa é nossa política; »
Decido, tristemente abandonar esse projeto. Envio uma mensagem dizendo « Sinto muito, sou um profissional e não posso aceitar trabalhar de graça. Vocês não estão trabalhando gratuitamente agora. Porquê deveria? Vocês têm a política de vocês e eu a minha. Na política de trabalho da minha vida está escrito ‘nunca trabalhar de graça ou pagar para trabalhar’, espero que entendam. »
Uma das chefes da produção me liga. Muito gentil, cordial tentou de todas as formas me convencer. Disse « sim » a todas as minhas exigências menos a de ganhar um cachê pela minha representação.
« Legalmente estamos impedidos de pagar pela sua performance. Entretanto nós daremos à você um perdiem, (dinheiro para despesas como comida), pelos dias que você estará conosco. Reembolsaremos seu gasto com visa e o transporte de sua casa até o aeroporto. Você não terá que pagar para trabalhar e em contrapartida você terá um momento incrível em sua carreira. Nós queremos que cada pessoa na América assista à sua performance e fale de você no dia seguinte. Acreditamos que você possa ser um daqueles ‘vídeos virais’. Você tem 1 milhão de visualizações no Youtube com o GOT Talent Espanha? Nós vamos trabalhar para que você chegue a 100 milhões conosco. Cada episódio é assistido por 16 milhões de pessoas em todo o mundo. Não posso garantir 100% que você esteja no show pois problemas podem acontecer. Um júri ficar doente ou qualquer coisa assim. Mas acredite em mim, dou minha palavra de que isso será perfeito para sua carreira ».
Diante destas palavras fiz aquilo que considero o grande erro de toda esta aventura: confiei naquela vadia.
Como estava sem dinheiro em minha conta e a embaixada americana só aceitava pagamento com cartões de crédito, pedi a uma amiga para pagar pra mim e que tão logo tivesse o dinheiro ela seria reembolsada. Ela acreditou em meu projeto. Acreditou… Era alguém que eu estava literalmente « transando como um cachorro » e neste momento poderia pedir qualquer coisa. Infelizmente essa « amiga » mostrou-se uma verdadeira vadia depois de algumas semanas. Infelizmente como a maioria das mulheres com quem tive a honra de sair. Claro que não todas mas infelizmente a grande maioria.
Como moro em meu caminhão, pedi a um dos estúdios de dança onde dou aulas para receber meu passaporte com o visto. Gentilmente eles prontamente aceitaram minha demanda.
Comecei a me preparar e percebi ao longo da preparação que poderia acrescentar mais elementos técnicos e acrobáticos o que tornaria meu show ainda mais impressionante.
4 dias antes da viagem, disseram que iriam finalmente reembolsar meu visa mas que infelizmente isso levaria algum tempo para que fosse totalmente aprovado pela produção do show. Sim: confuso, complexo, irritante.
FIM DA PRIMEIRA PARTE
Capítulo II : O pré-show mais amador do mundo
Pronto para embarcar, decido verificar minha conta corrente: nada mencionando transferências. Começo a me estressar: preciso pagar o taxi do caminhão até o aeroporto, minha comida… Neste momento recebo um email de uma certa « Josita » dizendo que despesas como comida e transporte não seriam reembolsadas. Mando uma mensagem para Kayla, produtora responsável pelo meu ato dizendo não entender esse e tantos outros emails uma vez que havia acordado com a chefe de produção o reembolso de todas essas despesas. Ela sempre se desculpava e dizia « vou verificar ».
Decido ser realmente mais direto e rude: « se vocês não me enviarem uma mensagem por escrito garantindo o reembolso de todas essas despesas, prometo pela vida da minha filha que não entro neste avião ». 3 minutos depois recebera uma mensagem de confirmação de reembolso.
No avião tentei relativizar e pensar que, mesmo com estes e outros problemas administrativos, aquela seria a ocasião perfeita para finalmente mudar minha vida. Tentava, repetir a frase daquela vadia « queremos que cada pessoa na América veja a sua performance ».
Chorei como um menino lembrando minha trajetória. Preparei um discurso mostrando para todos aqueles que um dia me criticaram que finalmente por acreditar nos meus sonhos, minha vida mudara graças ao meu árduo trabalho de mais de 10 anos.
Chegando na cidade de Los Angeles, ao ativar meu telefono, dois minutos depois recebo uma mensagem de minha operadora dizendo que eu havia consumido quase 60€ em internet. Uau! Primeiro prejuízo!!!
Nas outras edições em que participei, sempre havia alguém me esperando no aeroporto com meu nome. Nesta eu teria que sair do meu vôo e tentar encontrar o ponto de táxi. Pode não parecer mas você acaba de chegar de um vôo de 14 horas e precisa ficar correndo com bagagens para lá e para cá procurando a empresa que irá te levar ao hotel. Mesmo com a reserva do transporte, tive que esperar 30 minutos até que o próximo furgão chegasse.
Durante o caminho, recebo a mensagem de que não deveria ir ao hotel fazer meu check-in mas diretamente ao teatro para fazer alguns vídeos.
Expliquei pela centésima vez que nós havíamos combinado que daria entrevistas maquiado e vestido a caráter. Ainda mais com o atraso do meu vôo e do táxi mais o fuso horário, aquilo seria mais do que cansativo pra mim e que nós deveríamos pensar na performance do dia seguinte. Neste momento recebo a confirmação de que poderia usar as músicas que uso originalmente em meu ato pois até ali eles queriam ter mudado por conta de direitos autorais.
Vou ao hotel. Decido jantar afinal o combinado foi ser reembolsado, não é mesmo?
Tomo um banho daqueles, faço minha barba e tenho uma das melhores noites da minha vida afinal a cama do hotel era extremamente confortável e no dia seguinte teria a experiência mais incrível da minha vida. Sonhei com aplausos, entrevistas… O sucesso.
Acordo às 7 da manhã para tomar meu café da manhã e me maquiar afinal deveria chegar ao teatro maquiado e com figurino. Chegando ao restaurante do hotel, meu café da manhã não estava incluído em minha diária. Paguei do meu bolso mas tudo bem pois o combinado é que seria reembolsado, não é mesmo? Enviei uma mensagem à minha produtora expressando minha profunda raiva pois não ter o café da manhã não estava nas nossas conversas anteriores.
Apesar de já ter pessoas na entrada, o pessoal da segurança me faz esperar 20 minutos do lado de fora pois eles estavam, segundo ele, apesar do vai e vem de pessoas, « fechados ».
Finalmente entro. Preencho alguns papéis. Falo sobre recibos e recebo a confirmação de que eles não reembolsarão comida e transporte.
« Não foi o que combinei com Meg, a chefe de produção! »
« Preciso falar com ela antes de te dar a confirmação. »
« Antes de trabalharmos precisamos falar sobre tudo isso. Chame minha produtora por favor… (Keila aparece). Não quero ser mal educado mas preciso ser direto o que muitas vezes é confundido com falta de humildade ou coisa parecida – Bom dia. Espero que você esteja bem. Mas estou cansado Keila. Muitos problemas desde o começo… »
« Eu também estou cansada. Nós vamos falar com a Meg e vamos resolver isso. »
« Okay. Precisamos pensar no show. »
Me puseram em uma sala onde eu passaria as próximas 15 horas.
Dei entrevistas. Tentaram entrar na minha vida pessoal. Não permiti. Preferi expor a imagem do meu Palhaço. Era ele que estava ali me representando. Não poderia roubar dele este momento. Passada a primeira fase do show, neste momento poderia vir e falar da minha vida. Enfim, fizera planos para quando meu momento de glória chegasse. Odeio me fazer de coitadinho. As pessoas precisavam me amar pelo meu trabalho, não por pena.
Ensaiei. Pessoas me viam treinando e diziam « Hoje você vai ser uma estrela! » A cada entrevista, os produtores riam sem parar. Estava sendo mais uma vez o que sou de melhor: engraçado.
FIM DA SEGUNDA PARTE
Capítulo III : A tragédia ou o pior dia da minha vida de artista
Era 22h45. Perguntei à produção a que horas eu iria provavelmente me apresentar pois se olhássemos o fuso horário, eram 7 da manhã em Paris e isso significaria que estava começando a ficar muito cansado. Precisava tirar um cochilo. « Você tem mais uma hora e meia pela frente ».
Fui para o canto da sala e dormi aqueles 5 minutos que te dão a sensação de duas horas intensas. Uma produtora volta para dizer que finalmente seria o último a se apresentar. Estava totalmente contrariado mas pensei « Quer saber? Eles não estão me respeitando mas provarei no palco que sou alguém que merece respeito. Logo depois com certeza tudo mudará. »
Estava deitado e minha produtora vem correndo e me apressa « Você tem 15 minutos ».
Me troquei rapidamente. Ao terminar de me arrumar, aquela vontade horrível de fazer xixi. Fui correndo. « Estou aqui. Vamos nessa. »
Era hora. Vou entrar….
Durante minha entrada, ouço gargalhadas. O público já estava comigo, fato. A cada resposta, a audiência ria. Aplaudia.
Tínhamos ensaiado pela manhã que a música começaria com um sinal específico. A música começou antes e mais baixa… « Tudo bem Raul, continue »- pensei. Quando tiro minha camisa, um dos jurados aperta o buzz o « X » que indica que ele não apreciou meu número. Entretanto, para que você seja impedido de continuar, você precisa ganhar 4 letras « X ». Estava pronto para continuar quando a música repentinamente parou. Do nada, sem motivo. Isso quer dizer que todo o resto da performance estava comprometido. Para um Palhaço, as piadas funcionam como matemática : tudo deve ser milimetricamente estudado para evitar erros de verdade. Cada erro na cena é ocasionado propositalmente. Neste momento percebo que algo está muito errado.
Parei um segundo pensando « ué? Algum problema técnico? ». Eles colocam a música novamente mas desta vez do começo. De fato, tudo estava realmente comprometido. Fico parado ali no meio do palco esperando que alguém da técnica venha dizer que nós temos um problema. Nesse momento algumas pessoas do público começam a vaiar. Com a música mais baixa e olhando os jurados sem entender tudo aquilo, eles me olham e dizem com as mãos e com uma certa insignificância « apenas continue ».
O segundo « X »…. « Por favor! Quero muito acordar deste pesadelo!!! »
Depois o terceiro e finalmente o quarto…. Pensei « ufa! Pelo menos finalmente acabou este calvário. »
Tyra, apresentadora do show, que havia vindo à cena para participar do meu ato, levanta-se e vai embora. Estava ali, sozinho, diante de 1000 pessoas que me vaiavam.
Os jurados começam a me avaliar. Mel B diz que era evidente que nós tínhamos um problema técnico. A outra jurada disse « acho que deveríamos deixar que ele comece outra vez. Não foi sua culpa. » Neste exato momento Simon e Howie se levantam, seguidos por Mel B que decidem apenas ir embora assim, sem me dar uma chance de mostrar meu verdadeiro talento.
A loira ficou e pediu por favor para que apresentasse para ela. O DJ coloca uma das minhas músicas e ela pede para que continue pois ela queria muito ver meu trabalho.
Por respeito ao grande rei, o público decido enfim continuar, mesmo sabendo que não seria mais a mesma coisa. Estava derrotado. Linchado moralmente.
Sozinho mais uma vez, a chamo para vir. Ela recusa dizendo que deveria assistir. Chamo uma menina da platéia. Ela vem. Faço meus equilíbrios. Tudo é perfeito. Termino minha performance. O público me aplaude.
A jurada termina dizendo : « Olhe, para mim é ’SIM’ mas infelizmente meus colegas não estão aqui para julgá-lo. Sinto muito. »
Pego o microfone e termino dizendo :
« Cheguei hoje muito cedo. Ensaiamos. Eles erraram. Sou um profissional e esperei a vida inteira por este momento. Sinto muito. » Abaixei minha cabeça e saí chorando.
No corredor, chorando, com a cabeça baixa, o diretor chega até mim e diz « Sinto muito. Ele cometeu um erro. »
FIM DA TERCEIRA PARTE
Capítulo IV : O diretor, o cachê, a dor
(eu) VOCÊ NÃO COLOCARÁ ISSO NO SHOW! VOCÊ NÃO COLOCARÁ ISSO NO SHOW!
(diretor) Eu sinto muito.
(eu) VOCÊ SENTE MUITO? MINHA VIDA INTEIRA ESTAVA ALI! NUNCA ACEITO TRABALHAR GRATUITAMENTE!!! NUNCA!!! E QUANDO ACEITO SOU DESVALORIZADO DESSA FORMA!!! FUI O ÚLTIMO MESMO VOCÊS SABENDO DO FUSO HORÁRIO. A COMIDA AQUI É UMA TRAGÉDIA!!! É A MINHA CARA, MINHA CARREIRA QUE ESTAVA ALI NA FRENTE. SÃO OS ARTISTAS O MAIS IMPORTANTE NESSE SHOW!!! ELES NÃO PODEM PAGAR MINHA PERFORMANCE MAS PAGAM PARA UM PEDAÇO DE MERDA COMO VOCÊ!!!
(diretor) Tem algo que eu possa fazer, por favor?
(eu) VOCË PODE CALAR A SUA BOCA SEU DESGRAÇADO!!! VOCÊ É RESPONSÁVEL PELO PIOR DIA DA MINHA VIDA E VOCÊ CHEGA AQUI COM ESSA CARA DE MERDA DIZENDO QUE ELE ERROU??!!! DEVERIA QUEBRAR ESSA SUA CARA DE MERDA AGORA!!!!!
Neste momento, um dos seguranças, um cara de quase dois metros encosta no meu braço como alguém que quer apartar uma briga. Olhando nos olhos dele e gritando ainda mais alto digo:
(eu) VOCÊ NÃO SE ATREVA A ENCOSTAR EM MIM!!! ENCOSTE EM MIM NOVAMENTE E JURO QUE TE MATO!!! VOCÊ É GRANDE MAS NÃO É DOIS. SE VOCÊ QUISER VOLTAR PRA SUA CASA NÃO ENCOSTE EM MIM!!!! (Voltando para o diretor do show e chorando) EU NÃO MERECIA ISSO!!! VOCÊ DESTRUIU O MEU MOMENTO!!! REPETI MIL VEZES!!! CADA VEZ ERA COMO SE ESTIVESSE IMPORTUNANDO SUA PRODUÇÃO. SIMPLESMENTE PORQUE SOU UM PROFISSIONAL!!! SEI DO QUE FALO QUANDO O ASSUNTO É A CENA!!!
(diretor) Eu realmente sinto muito…
(eu) VOCÊ TEM QUE SENTIR MESMO!!! OBRIGADO POR DESTRUIR MEU MOMENTO, MINHA VIDA!!!
Saio chorando para ir buscar minhas coisas. Uma grande movimentação começa de um lado para outro. Alguns policiais começam a me olhar de longe. Pergunto com muita ignorância o que é que estavam olhando. Pedem desculpas. Saem.
Estava me sentindo o ser mais humilhado do mundo. Não conseguia entender porquê ali, porquê naquele momento.
Depois de quase uma hora preparando minha bagagem, como uma criança que chorou muito depois de uma surra, peço novamente para falar com o diretor. Com voz trêmula, cabeça baixa digo chorando:
(eu) Por favor, eu imploro para que você não destrua minha carreira. Não mereço isso. Trabalhei muito duro para chegar até aqui. Por favor…
(diretor) Eu prometo 100% não fazer nada para te prejudicar. Eu prometo 100%. Também estou muito triste com o que aconteceu. Sei que nada do que eu diga mudará o que aconteceu. Realmente sinto muito. Não prejudicarei sua carreira. Prometo 100%.
(eu) Isso nunca aconteceu comigo antes. Este foi o pior dia da minha vida. Até agora não entendi porquê isso aconteceu justo comigo, justo hoje, justo com vocês.
Ele se desculpou mais umas cem vezes e disse que enviaria na primeira hora um email, uma prova por escrito de que nunca divulgaria aquelas imagens.
Dormi acho que uma hora e meia, maquiado ao chegar ao hotel. Mandei mensagens para as pessoas que pensei que poderiam me ajudar naquele momento tão difícil. Falei com Adrienne, uma menina maravilhosa que conheci em Budapest. Eduardo Lamberti ou um dos mestres que tive nesta vida circense e minha mãe.
Recebi conforto, carinho, compreensão. Era mais do que óbvio que aquilo não tinha sido minha culpa.
Eduardo me aconselha voltar ao teatro e falar com o diretor sobre uma compensação uma vez que eu perdi tempo, dinheiro e havia sido humilhado diante de tanta gente.
Minha mãe me aconselha de não voltar ao teatro e simplesmente procurar um advogado e correr atrás dos meus direitos uma vez que fui humilhado.
Adrienne se compadece de minha dor e diz que adoraria estar ao meu lado para me abraçar e me beijar.
Decido voltar ao teatro para falar mais uma vez com o diretor. Com medo de não ter uma verdadeira confirmação por escrito, decido gravar nossa conversa. Sem saber que estava sendo filmado, ele assumiu erros e perguntou quanto eu queria para compensar tudo isso. Respondi « não vim aqui para ganhar dinheiro fácil. Sou um artista e todo o dinheiro do mundo, não poderá apagar o que vivi ».
Digo um valor assim, por dizer. Ele aceita. Diz que legalmente não pode me pagar mas pede que eu envie uma fatura de locação de material. Meu sentimento de ódio aumentou pois existia sim a possibilidade de pagar minha prestação. Concordo em mandar uma fatura.
Saindo dali, meu inferno psicológico começou: falta de sono, choro, tristeza profunda, desejo de morrer e um vídeo de toda aquela situação começaram a passar repetidamente na minha cabeça. Pior: comecei a me culpar e pensar que poderia ter revertido aquela situação se tivesse feito isso ou aquilo.
Sempre fui muito exigente e perfeccionista. Mesmo sendo problema dos outros, um erro é um erro e poderia ter evitado de alguma forma. Poderia ter ido embora antes. Poderia ter saído de cena. Poderia talvez ter pego o microfone e começado o meu show stand up mas abandonei e não pensei em fazer outra coisa, uma vez que aquilo que havia preparado por anos estava morto, naquele exato instante.
Pensamentos horríveis começaram a passar pela minha cabeça. Entre eles o de que o momento de partir, chegou. Estou exausto, cansado. Briguei, lutei e no final vejo o quanto as pessoas são filhas da puta. Quantas foram as vezes em que pedi às pessoas « compartilhem meu trabalho. Preciso de vocês »? Quantas foram as vezes em que pedi para que as pessoas ao menos dessem uma pequena atenção ao que estava fazendo por elas. A grande maioria sempre passou do meu lado, sem dar muita importância. Pessoas que se diziam amigas, nunca foram me assistir, me incentivar.
Escrevi uma mensagem de adeus no Facebook. Tudo que precisava para ter ainda mais razões de tirar minha vida.
Muita comoção. Pessoas me chamando. Perguntando. Interessadas na minha desgraça.
Onde todos estavam quando estava ali, disponível? A verdade é que ninguém liga. Ninguém se importa.
Toda minha vida, não foi apenas dedicada para viver um sonho ou ser rico. Toda minha vida foi dedicada para dar esperança. Mas quanto mais vivo, mais vejo o quão esse mundo está podre. É cada um por si. Ninguém liga, ninguém se importa.
As pessoas estão desesperadas com minha mensagem porque não podem viver com a culpa de que eu estive ali, sempre. Agora que imaginam me perder de vez, colocam em questão o porquê de não ter me ajudado antes.
Sou muito sozinho. Vendi minha alma para o público. Tudo em que acreditei e vivi foi para fazer desse mundo um lugar mais feliz.
Infelizmente o que as pessoas querem é tragédia e dor. Peça para que compartilhem seus vídeos de trabalho ou para que invistam em seus projetos. 2 visualizações. Diga que quer morrer: 15 mil visualizações. Infelizmente essa vida não vale a pena.
Se você chegou até aqui, peço para que você ainda acredite nos seus sonhos e faça tudo para realizá-los. Não será nada fácil mas você terá uma sensação de liberdade maravilhosa.
Se neste exato momento estou pensando em tirar minha vida não é porque não estou mais apto a lutar e dar mais uma vez a volta por cima. Se estou planejando morrer é porque sei que hoje, tudo aquilo que digo e acredito terá muito mais força com minha morte do que com a minha vida.
Peço perdão a todos que um dia me usaram como exemplo e acreditaram em mim. Não abandonei meus ideais. Apenas quero que eles sejam impressos na história.
Infelizmente tudo o que aconteceu nesta viagem mas também em toda a minha vida, fará com que as pessoas que um dia cruzaram meu caminho revejam a forma como elas vivem e se direcionam às pessoas.
Unidos podemos ir mais longe e « eles » querem te fazer acreditar que você dever ser sozinho.
Apesar de tudo, ainda acredito no ser humano e é nele que estão todas as esperanças para salvar esse planeta.
Não posso evitar que me julguem. Pessoas já o estão fazendo desde sempre mas somente eu sei o que é bom ou não pra mim.
Um dia ouvi que era muito fácil tirar a própria vida e fugir dos problemas. Acreditem, não é.
A volta mais difícil de toda a minha vida.